Missigena, a Estória.

Missigena


Filha de todas as terras, mandala das raças.


Missigena foi parida sob(re) a terra. Funde-se, mistura-se a ela, tornando-se a própria terra. Parte em busca de sua identidade furtada pelos capatazes, colonizadores que impuseram suas regras. E que, não bastante, negaram as raízes que por aqui já existiam.
Missigena não é apenas testemunha, mas o humus dessa nova pátria, que carrega em sua veia todas as pátrias que chamamos Brasis.
Um verdadeiro calidoscópio . O retrato de um povo que, com sua alegria desabrida, se deixou misturar; com braços, pernas e coração abertos para essa nova vida. Que se permite! E se permitiu ser penetrada e nutrida por sêmen alheio.
Ingenuidade, pureza ou complacência? Não importa, uma vez que ela, a própria terra, foi bebida, devorada e se deixou gozar diante da opulência de seu inquisidor.
Missigena é Brasileira de nascença, de crença, de aparência, do imaginário nutrido pelos folclores, pelas lendas.
Em busca de sua essência, encontrou homens carregados de histórias que serviram para apresentar o significado das palavras “respeito” e “encanto”.
Porque é preciso ouvir uma história todos os dias, ao cair da noite, ao crepúsculo, quando finalmente a luz rompe os ares e respira. É preciso ouvir uma história na infância e outra na infâmia. No começo e no fim do amor. É preciso ouvir uma história que nos faça abrir o peito e morder.

Agora veja essa história que se forma aqui, de raízes fundas, que Missigena nos trás.
História escrita pelo pulso de todos os filhos dessa terra. Que se chama com todos os nomes, de todos os credos, feita de um sincretismo de todas as cores, de todas as formas oblíquas, de toda a pureza de um povo que foi irrigado com a existência de outros através de uma mistura imposta, mas que floresceu, abrindo espaço. Em nossas vestes cobrimos ainda nossa pecadura atávica.

Se esse povo é Missigena, ele é você. Eu.



Texto Juliana Frank ,Emerson Murad